Jonas da Amazônia

31-10-2011 15:46

Assim como na história bíblica em que Jonas foi engolido pela baleia e depois lançado à praia, por puro milagre, também um fato parecido foi registrado no interior de Parintins.

 

Segundo o relato bíblico, durante a viagem, acontece uma violenta tempestade. Esta só acaba quando Jonas é lançado ao mar. Ele é engolido por um "grande peixe e no seu estômago, passa três dias e três noites. Sentindo como se estivesse sepultado, nesta situação arrependido reconsidera a sua decisão. Tendo se arrependido, é vomitado pelo "grande peixe" numa praia e segue rumo a Nínive do qual queria sua destruição.

 

Olinda Moreira de Oliveira, 60, conta que o pai Francisco Moreira foi testemunha ocular de um milagre. A família que morava na comunidade do Lago Preto, zona oeste do município de Parintins teria deixado a localidade em conseqüência da epidemia de impaludismo, febre que teria matado centenas de pessoas no Estado do Amazonas.

 

Chico, como também era chamado Moreira, aceitou a indicação de um amigo para que adquirisse um lote de terras distante da li, na região do Paraná do Ramos. Anos depois resolveu mudar-se para a localidade do Juquiri, Costa do Amazonas, como conhecem os habitantes da Ilha. Na propriedade que recebeu o nome de São Francisco o compadre Dedé, pescador respeitado pela ousadia foi o verdadeiro Jonas da Amazônia.

 

Mas Chico já havia passado pela experiência de servir o Exército Brasileiro, na época da segunda guerra mundial, onde os jovens eram arrancados do seio familiar para defender a pátria. A iniciativa do governo brasileiro obrigou que muitos jovens se escondessem nas matas. Não foi o que acontecera com ele. Por vontade própria passou cinco anos em uma das Forças Armadas. Durante esse tempo presenciou várias atrocidades cometidas contra os japoneses que tinham vindo para trabalhar na Amazônia, no cultivo da agricultura.

 

Os japoneses, chamados de Kotakussei, eram pessoas que tinham curso superior e foram convidadas para desenvolver uma nova experiência fora do País de origem. Eles se instalaram na região de Vila Amazônia e depois, por volta de 1945, alguns foram expulsos, mortos e outros resolveram se embrenham nas matas dos municípios do Baixo Amazonas.

 

Ao retornar a comunidade, Francisco Moreira, com saudade dos tempos de pescaria com os amigos, foi ao lago pescar. Ele comunicou à esposa que não sabia quando voltaria pra casa, pois estava com um pressentimento de que traria uma boa quantidade de pescado.

 

Dona Olinda, benzedeira das boas no bairro de São Vicente de Paulo conta que naquela época não havia malhadeira, somente os seguintes apetrechos: caniço, arpão e zagaia. Esses eram os instrumentos do bom pescador que não errava um pirarucu. Mal sabia o que estava por vir.

Distante, avistou o amigo e disse.

- Esse é o Dedé que está pescando.

- Tomara que possamos conseguir muitos peixes para comemorar meu retorno pra casa.

- Não sei por que ele quer ficar tão distante assim?!  

 

Porém algo o deixava em dúvida. Havia um fogo muito forte. Isso era por volta das 18 horas, o sol se pondo e á noite chegando. Não havia lua. A escuridão era intensa.

Sem se importar, pois achava que o amigo estivesse bem. Chico recolheu os peixes pra canoa e em seguida, já na beira do lago tratou-os. Tirou as escamas... Chico acendeu o fogo e não demorou a assar os peixes: tambaqui, aracu, pacu e outras espécies. O ambiente em que eles viviam era muito farto. Não havia tanto invasão e depredação dos lagos que se formam na região da Costa do Amazonas com a cheia do rio. 

 

Chico pensou em ir lá com o amigo convidá-lo para jantar, mas uma sensação estranha o impedia, até que criou coragem. Ele atravessou o lago e aquele fogo ia sumindo no horizonte.

Exclamou:

- Será que é cobra grande!?

- Tem alguma coisa estranha por aqui!!

Não sabia ao certo o que se passava com Dedé. Encontrou na outra margem o barranco desmoronado, como se um grande vendaval tivesse passado por ali e amassado o capim. A princípio esperava que o compadre pudesse chegar mais perto. Resolveu encostar a embarcação e dar um cochilo. O homem ficou cuíra, não conseguia dormir e pensou.

- Será que o bicho comeu o meu amigo.

Em seguida balbuciou.

- Aqui está a canoa dele, ainda por cima quebrada. Hum!

 

Tentou subir em uma árvore para enxergar melhor a dimensão do estrago que o grande animal tinha feito, mas a escuridão não permitia. O destino não estava ao seu favor. Uma imensa casa de caba o fez descer tão rápido que parecia voar. Ao amanhecer chegou a seguinte conclusão.

- O bicho comeu meu amigo.

- Ele está na barriga da cobra grande.

Ela era tão grande que podia ser vista a 500 metros de distância.

 

Chico destaca que o animal rolava pra todo lado, depois que Dedé tentou sair da barriga, como Jonas da Bíblia. Foi com a ajuda de um canivete que usava na cintura que feriu todo o interior da cobra grande para poder sair.

 

Ao avistar Chico, o sobrevivente tentou correr. Meio alucinado de tanto lutar com o grande animal foi levado para casa são e salvo.

Olinda afirma que a barriga do bicho parecia uma sala de estar. As costelas foram utilizadas como travessão da residência. As escamas de cor azul e verde tinham um brilho muito forte e foram aproveitadas para a confecção de tapete das residências dos caboclos do Juquiri.

 

A cabeça foi levada por uma pessoa desconhecida. Os dentes serviram para confeccionar botões. Outras partes dos ossos estão no telhado da residência de Dedé que depois virou um próspero comerciante, onde até hoje compra peixe liso, carne de jacaré e pirarucu e ainda exibe com orgulho o troféu.

 

Esta obra foi publicada em um trabalho acadêmico na Universidade Federal do Amazonas/Parintins (Ufam)